Quando pensamos em dificuldades de aprendizagem podemos nos remeter à ideia de que a escola é a produtora das diferenças. Prefiro acreditar que seja ao contrário. É a partir da escola que as diferenças diminuem. Mas então por que parece ao contrário? Porque muitas vezes é ao ingressar na escola que se percebe as dificuldades de aprendizagem. Alguns alunos não acompanham o ritmo dos outros alunos ou da escola. Muitas vezes podem ser caracterizados como desajeitados, preguiçosos ou desleixados. Quando acontece a dificuldade é acentuada, como inúmeras repetências, por exemplo, começa uma saga para o aluno e família. São encaminhados para o que se pode chamar de "medicalização" da educação.
A Psicopedagogia e a Psicomotricidade podem ser os primeiros passos para ajudar este aluno e também ao professor. É preciso entender como este aluno aprende, como está sua maturação neurológica, seu sistema nervoso, seu corpo e movimentos. Às vezes uma estimulação demasiadamente precoce, bloqueia o desenvolvimento da aprendizagem saudável.
Os professores preocupam-se com o não rendimento de seus alunos. Com a ajuda de um profissional da Educação estas dificuldades podem ser sanadas na sala de aula, dentro da escola. Encaminhar crianças para diferentes profissionais pode-se cair no risco das crianças serem consideradas com distúrbios de aprendizagem e serem tratadas como portadores de uma doença. Em algumas falas há pais que relatam a seguinte frase: Ah, professora, não precisa puxar muito por ele não. Ele tem problemas. Toma remédio. Em alguns casos o uso da medicação é apenas para a criança "centrar" ou para dar uma resposta à família que está ávida por uma solução e dar fim à sua "saga". Não se afirma, aqui, que não se tenha um olhar atento.
O aluno é desatento, deixa o lápis cair, mexe-se na cadeira, com quê frequência? Tem crianças que nunca frequentaram a escola, na casa em que moram não sentam à mesa, nem nas horas das refeições, brincam o tempo todo na rua... Esta criança provavelmente terá ou poderá ter dificuldades em se adequar a uma sala de aula mais estática. Ao perceber esta diferença deve-se encaminhar? Não. Mas pode ser que tenha um pouco mais de dificuldade na assimilação dos códigos da escrita. Pode, mas não é regra. É aí que entra a sensibilidade do professor, pois de acordo com Oliveira, 2011, intimamente ligada à auto imagem está a autoestima que é um juízo de valor, um julgamento que fazemos de nós mesmos. Ela pode ser positiva ou negativa e vai depender da carga energética ou afetiva que atribuímos aos nossos êxitos e fracassos.
Daí a complexidade da educação. Parece fácil ser professor, mas ser um bom professor não é nada fácil. Um professor só deve encaminhar um aluno quando esgotar todos os seus recursos e todos os recursos dentro da escola.
A Psicomotricidade se apresenta como um destes recursos.
O que fazer com que esta criança se adapte à escola ou como a escola deve se adaptar a esta criança e esta tenha consciência e controle de si mesma? Oliveira faz uma análise do sistema nervoso e relaciona a alguns movimentos: voluntário, reflexo e automático. O movimento voluntário depende de nossa vontade, o movimento reflexo independe de nossa vontade e o movimento automático geralmente depende da aprendizagem, história de vida e experiências de cada indivíduo. Geralmente precisa de treino, prática e repetição. Por isso, na alfabetização se fala em sequência didática, não se avança para um conteúdo novo sem que tenha aprendido, assimilado um anterior. Os alunos assimilaram? Então pode seguir adiante fazendo uma ponte entre o conteúdo novo e o já estudado, sem deixar de revisar o antigo. Se um ou dois alunos ainda não conseguiram reforce com eles. Crie estratégias. pode ser extraclasse, com atividades de reforço ou em aula com atividades de menor complexidade.
Para aprender a ler uma criança precisa ter domínio de ritmo, uma sucessão de sons no tempo, memorização auditiva, saber diferenciar sons nas e das palavras. É baseado nestes quesitos que o professor alfabetizador deve embasar sua prática. Não há receitas, mas há caminhos que devem ser seguidos independentemente do método escolhido.
Para saber mais leia:
Psicomotricidade
Educação e reeducação num enfoque psicopedagógico.
Ed. Vozes, 16ª edição, 2011
Obra com cinco capítulos. Psicomotricidade, dificuldades de aprendizagem
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